sexta-feira, 25 de junho de 2010

MÁRTIR DA CAPOEIRA - XII

Faceta marginal
O resgate do passado significou a quebra dos laços com a rua. Pastinha consegue tirar a capoeira da desorganização e termina por romper culturalmente com sua faceta marginal, vinculada ao crime. “Eu sei que tudo isso é mancha suja na história da capoeira. Mas um revólver tem culpa dos crimes que pratica?”, questiona. Eram tempos de arruaça e diversão. “Nas primeiras décadas do século passado, a capoeira estava entre a ordem e a desordem, a violência e a festa”, analisa Adriana Albert Dias, autora de Mandinga, manha e malícia, livro que reconstitui o cotidiano dos capoeiristas entre 1910 e 1925.
Quando jovem, tais contradições são vivenciadas de perto pelo próprio Pastinha. Por “vadiagem”, o nome do mestre foi parar algumas vezes nas fichas policiais. Não andava desprevenido. Usava faca de dois cortes na cintura e pequena foice no cabo do berimbau para se proteger das ações da polícia, geralmente iniciadas por pura provocação. “Se estava numa vadiação, num grupo com o berimbau na mão, eles passavam e entendiam de tomar. Aí inflamava, né? Tive algumas vezes a polícia encima de mim. Bati alguma vez em polícia desabusado, mas em defesa de minha moral e do meu corpo”.
A saída seria realizar as rodas em locais fechados, longe dos olhos das autoridades. Pastinha tinha planos audaciosos para fazer da capoeira prática reconhecida e valorizada. Chegou a criar algumas academias de treinamento, ainda sem estrutura. Somente com o convite da Gengibirra pôde realizar seu maior sonho, a fundação do Centro Esportivo de Capoeira Angola (Ceca), em Brotas, mais tarde transferido para o Pelourinho. “Dentro da academia seu ensino foi fundamentado na valorização da cultura afro-brasileira e em princípios éticos bem diferentes do que se aprendia nos tempos dos valentões”, compara o capoeirista e doutor em educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Pedro Abib.

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