quarta-feira, 14 de abril de 2010

MÁRTIR DA CAPOEIRA - III

Segredos do berimbau

A música de Pastinha também seria motivo de estudos, dessa vez através da etno-musicóloga Emília Biancardi. Em 1962, a pesquisadora visitou Pastinha com comissão inteira de alunos do projeto Viva Bahia, primeiro grupo de estudos folclóricos do estado. “Queria que meus alunos aprendessem os segredos do berimbau, a musicalidade da capoeira”. O mestre ensinou com gosto, mas foi além. “Logo nas primeiras aulas já estava na roda, ensinando capoeira”, revela. Não atrapalharia a pesquisa direcionada à música. Emília Biancardi chegou à conclusão de que Pastinha também era excelente compositor de ladainhas e tocador de berimbau, ao contrário do que diziam alguns.
“Tocava de forma tradicional, sem floreios. Não era um virtuoso como Canjiquinha ou Waldemar. Seu berimbau era intimista e sentimental”, define a etno-musicóloga. Era a forma de adequar o som do instrumento ao jogo. Ambos deveriam estar em perfeita consonância. “Capoeira e música eram indissociáveis para Pastinha. Um era o corpo, o outro o espírito”. Ingênuo, também não era capaz de dissociar a camaradagem dos negócios. Não cobrava nada por sábias informações ou pela própria imagem, em fotografias. “Houve quem chupasse a laranja e deixasse o bagaço”, acusa Emília Biancardi. Solícito, o mestre atendia a todos, posava sem saber que era explorado, como nas escadas do avião, satisfeito e sorridente.

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